Preso entre a sombra queimando


Deparei-me com a perdição de meus olhos, como se um carro descesse a 200 km/h e batesse em uma parede imensa de concreto. Certamente meu mundo tornou-se pedaços. Em meio a tantas ferragens eu nem se quer tentei sair dali. Estava confortável. Não busquei socorro e nem se quer chorei. Senti por longos instantes que ali era o meu lugar. Meu coração pulsava forte, tão forte a ponto de sentir meu peito se pressionar contra os bancos tão apertados e estourados a minha volta. Mas sim, eu estava aquecida.

Deixei que o tempo passasse e me levasse para mais longe sem perceber que eu estava sendo esmagada aos poucos.

Devaneada, tentei me livrar dos pensamentos sufocantes que me assombraram durante meses crendo que tua presença significava muito mais para mim do que tudo aquilo que vivíamos. Então comecei a sofrer e me debater querendo desesperadamente me desprender das ferragens, mas todo tempo de comodidade fez com que eu me envolvesse cada vez mais deixando meu corpo entrelaçado com o meio.

A dor chegou. E por ser tão insuportável quis deixar de embriagar-me da gasolina que estava me abastecendo desde então. Não pedi ajuda, tentei sair sozinha, mas era impossível fazer isso de forma rápida.

O vício de estar ali estava corroendo meu ser, mas simplesmente por querer me desprender, eu fui escorregando de vagar por entre as paredes de ferro e nem me dei conta de que estava saindo de um sufoco incontrolável. Soube dizer não ao líquido que completava a minha alma e pouco a pouco me desliguei de ti aprendendo a dizer não e viver o presente designado somente a mim.

Deparei-me com a perdição dos meus olhos se desfazendo... Partindo... Sumindo.

Prisão/ Libertação/ Prisão ...


Foi estranho acordar e ver que tudo que eu sentia passou tão rápido.
Foi eterno enquanto durou, foi intenso.
Mas sumiu mais rápido do que eu esperava.
Não preciso culpar ninguém. Cada um sabe o que fez e o que tem feito.
Só que o efeito que certas atitudes causaram em mim, danificaram boa parte do meu sentimento bom por ti.
Tudo está exatamente igual, nenhuma vírgula fora do lugar. Pelo menos para ti.
Tudo permanece intocável. A única coisa que mudou foi meu sentimento.
Vamos continuar iguais, vamos rir, sair, brincar, chorar...
Só que sem o peso de um amor.
Eu ainda não o vi, mas sei que nada vai voltar a me dominar aqui dentro.

Eu não procurei o amor. Ele veio até mim.
Não escolhi amar. Simplesmente aconteceu.
Sabe por quantas vezes fizeste minha cabeça sem eu precisar pensar?
Inúmeras.
É engraçado como queremos que isso aconteça. De repente lá estamos nós, presos por correntes invisíveis a um certo alguém que não te prendeu por mal, nem por escolha.
Nos vemos atrelados por alguém que nos tira a possibilidade de enxergar a razão e nos faz flutuar até a imensidão desconhecida onde nós nem sabíamos quão alto podíamos ir.
Então a pressão que nos mantinha flutuantes acaba instantaneamente e percorremos o caminho contrário descendo repentinamente até o plano de onde jamais deveríamos ter saído.
Perguntamo-nos onde está o chão, por que não o encontramos...
Mas é que na verdade, nós permitimos dissolver nosso próprio piso, deixando livre diante de nós somente o abismo. Este construído apenas por incertezas de uma repentina boa sensação ao coração. Suicídio.

Demora um tempo, mas nós conseguimos nos recompor.
Traçamos um novo piso, estruturamos-o melhor.
Juramos manter as estruturas intocáveis. Reforçamo-as.
Eis que então, do nada, aparece alguém, e esquecemos de tudo.
E começamos tudo outra vez...

Worth it?


A: O que está acontecendo com você?

B: Estou vivendo.

A: Você está se estragando.

B: Não acho. Estou bem.

A: Bem com efemeridade.

B: É o que conta, não?

A: Logo você perde a paz.

B: O “logo” ainda não chegou.

A: O logo é breve.

B: Por que se preocupa tanto se não é do seu interesse.

A: É muito mais do meu interesse do que seu próprio eu.

B: Não entendi.

A: Amor. Define.

Flyin' out


Eu disse não. E consegui manter após muitas oscilações.
Não regressei. Pensei, confesso. Mas não transmiti nada do que senti.
Passou.
Retorno para o mesmo ponto de onde tinha partido. Impossibilidades afrontando.
Presente aqui falo agora, não é passado, não é futuro. É meu down voltando.
"Eu ando tão down." E confesso que fiz por merecer.
Ouvi a canção, aquela que bateu fundo no coração, e não hesitei. Eu a segui.
E por não haver outra palavra, descrevo agora o infortúnio envolvente guiando no escuro.
Fechei meus olhos e voei. Que erro horrendo fechar os olhos.
Perdi meu caminho. E como por sorte caí no seu.
Saltitei repetidas vezes por estralos de sorrisos arrancados sem força alguma e pude vivenciar o doce prazer de sentir felicidade.
Erro meu ter me entregado a esse caminho. Você o conhecia, eu não.
Você pegou atalhos e correu para logo chegar ao fim.
Eu dei voltas, nós, pisei fora, voltei, e tudo que achei foram minhas próprias pegadas marcando a solidão.
Eu preciso abrir os olhos, mas estou presa em um sentimento que se recusa a sair.
Eu não quero que saia, é tão bom se sentir em pedaços e logo após encontrar vestígios seus e imediatamente se recompor.
Preciso sair. E as vezes agradeço por não estar presente como queria.
Mas tudo que quero é voltar.
Não, é bom estar aqui.
O que quero na verdade é cair novamente sem saber onde, e poder brilhar novamente com um ser que vem de dentro.
Mas eu preciso viver, e deixar que tudo volte a ser lembrança.
Mania... Mania de sentir o chão sumir e deixar que nunca mais volte.
Agonia de ter que sentir assim e não se deixar viver.

Não existe "SE"


É amor.
E quão triste é ver isso desfalecer.
Foi tão forte, de repente me vi extasiado pelo infortúnio da dor.
Nunca foi intensão. Eu nunca quis mentir. Eu nunca quis machucar.
E por tanto não querer machucar, quem se machucou foi eu.
Melhor assim, pelo menos fiz você permanecer intocável.
A não ser pelos rumores que ecoam gritando pelo meu nome.
Eu tive que partir. Já não dava mais pra mim.
Eu parti por você. Porque eu não podia mais sustentar algo que não tinha como se prender.
Aquilo não era eu.
Dói muito em mim por saber... Saber que... Que tudo nunca foi nada, por nunca nada existir...
Dói também porque eu calei a minha voz, e já não posso voltar.
Apesar de tudo, é melhor que eu não possa mais dizer nada. Assim eu evito de dizer mais coisas para machucar.
E quantas vezes eu te fiz chorar, me desesperei a toa, talvez eu quisesse impressionar.
Mas eu aprendi que o teatro conquista tudo. Então o fiz. Então o conquistei.
Então eu me perdi. Porque meu personagem me consumiu e eu sumi de mim.
E me vi louco por absurdas tentativas de voltar e não conseguir.

Sumindo ou não, deixei marcas. Umas boas, outras ruins.
Mas a pior marca é não poder dizer o que eu sinto e senti.
É não poder voltar atrás.
Eu não faria diferente... Eu simplesmente não faria.

É amor. Mas o amor sempre foi uma bagunça.
Foi amor. Eu vivi. Você sentiu. Nós amamos.
Será amor sempre. Mas um amor guardado que só existirá na memória.
Foi bom. Foi errado. Mas foi perfeito enquanto durou.
Demorou, mas finalmente, partimos.

"Mas acredite quando eu digo SEJA FELIZ. Você nasceu pra ser espinho e eu cicatriz." *
*Visconde - Penny

Um pouco de paz


Eu poderia não escrever.
Mas também poderia escrever pela última vez.
Também estou ''largada'' por essas infinitas situações que não se cansam de prosseguir.
Porém não posso me deixar prender na areia, sendo que não há firmamento algum.
Pensei em ficar, mas não pensei no futuro. Eis que então ele chegou.
Chegou mais que depressa, antes do previsto e me pegou desprevenida.
Minha sorte foi trilhar um abstrato que imediatamente tornou-se concreto quando sumiste.
Finalmente meu sonho se tornou realidade e pude então, sem culpa, reciclar as lembranças... Tanto más quanto boas.
Na verdade eu não quero lembrança alguma. Quero começar de novo, do zero, do nada.
Trilhar agora um lugar só meu que me leve aonde meus planos seguem.
Demorou a perceber a razão daqueles gritos que eu tanto ouvia e que me empurravam enquanto eu estava estacionada. EU NÃO VOU DEIXAR.
Na verdade são: Eu não vou ME deixar.
Antes de tudo, eu mesma.
Mas parece que esquecemos de nós mesmos quando aparece alguém.
O coração é tão burro, mas é tão inteligente que consegue fazer a razão sumir diante de tudo.
ATÉ QUANDO?
Não existe nada certo. Você arrisca ou não arrisca.
O que você prefere?

Hoje eu decidi que prefiro nada.
Só vou seguir e prosseguir realizando o que tenho feito.
E é isso.
Novo. Tudo.
Eu só queria, mas eu não sei mais...


(In)Secure


Então eu saí
Só não sabia para onde estava indo
Me perdi e me encontrei várias vezes
Imaginei, encontrei, busquei, mas nada vi
Soou ao longe um convite, aceitei
Embarquei, fechei a minha porta e saí
Conversei, conheci, me apaixonei e desapaixonei
Eu sorri, eu brinquei, pude sentir eu mesma.

Mas o resultado foi um mero devaneio
Este trazido pelo vento, escasso por assim dizer
Rarefeito que só.
Sombras no escuro ou talvez chuva no molhado.

Eu só continuei ali... Depois parti.

Está na hora de buscar novos... Novos rumos. Novos tudo.

Não é suficiente.


Não há nada para ser escrito se você não estiver presente ou ausente.
Se você não existisse em mim, eu não escreveria.
Sendo assim, não haveria nada.
Mas existe.

Apesar de você existir, o que não existe somos nós.
E isso faz a dor engrenar.

De tanta proximidade, a distância aumentou.
De tanta distância, incapacitou a possibilidade.

Eu não me importo.
Eu não me importo nem um pouco.
Só que todas as noites tudo volta a derredor.
Então isso tudo parece certo, não é?

Eu não vou te lembrar que você disse que nós não iríamos nos separar.

"No air to fill my lungs"


Começou com uma dor no peito.
Incessavelmente tentei respirar, mas o ar recusava-se circular facilmente.
Não morri. Mas sofri durante um bom tempo.
Meu peito se recolheu em prantos chamando através de ondas invisíveis por um coração que não ouviria, mas, que de fato, sabia que o meu gritaria em breve.
Não houve resposta visível, não houve nem mesmo um chamado que se pudesse identificar.
Tudo que havia era a lembrança de momentos incríveis e até mesmo os simples eram donos de uma beleza especial e cativante. -Isso se prendeu em mim para que eu pudesse não sofrer tanto assim.-
De repente o sofrimento transformou-se em lágrima.
Da lágrima que escorria do fundo do coração, ardia a falta de alguém que não estava perto.
E o tempo encarregou-se de levar a minha paz.

Um breve tempo se passou, e eu pude então ter contato com o alguém que roubaste a minha estabilidade.
Como sempre, um medo de não ser recíproco...
Mas me surpreendi, como se eu não a conhecesse...
Me vi confortada por um simples sorriso, e a partir daí já não precisava mais de nada.
Ganhei muito mais do que um simples sorriso.
Ganhei abraços, confidências e uma peça num coração que também ardia em dor denominado por um sentimento chamado SAUDADE.

"E eu não sei das coisas que você passou
Mas a milhas de distância eu estou pensando em você
Essa canção é tudo que eu tenho para dar
Essa vida é tudo o que temos para viver."
Penny - Visconde


Falha


Nunca há culpa. Sempre há culpa.
Cozinha um. Frita outro.
Inventa, finge. Se dobra para provar verdade.
O que é verdade em meio tantas palavras?
Saberá se vãs foram...?

Que marcas seriam invisíveis pós momentos intensos de cortes profundos?

Se ainda estou presa nesses lençóis procurando ebriedade onde nunca existiu...
Permaneço extasiada por uma droga inexistente onde não há cura.

Não vou falar de ilusão por você ser a própria.
Não vou sangrar pela falta de um pedaço meu que se foi. -Vou tentar.-

"Se a gente entendesse o que é o cíclo do amor...
Começa com a cura, mas termina com a dor."
6h34 - Visconde

É agora


Jamais entenderás o que representa o meu gostar.
Deixar de tudo que cercava em um lugar e pousar em outro.
Momentaneamente desconhecido e rapidamente descoberto.
Descobrir que a reciprocidade pode ser sim algo existente e querer urgentemente desbravá-la.
Queria abrir os olhos para enxergar a realidade.
Mas creio que minha essência aprendeu a viver somente com a platonice e agarrou-se nisso.
Ainda não aprendi a usar as palavras quando o assunto é você.
Porém, vivendo entrelaçado com o prazer dessas idas e vindas, hora pós hora me vejo destrançando uma longa história de um futuro que há de vir.


Deixe-me embriagar-me com toda dose de presença que possas me dar.

Vou deixar


Eu serei forte.
Mas é com os olhos emaranhados que me despeço.
É por tanto querer que digo adeus.
Não deveria existir impossibilidade. Mas sempre há.
Não entendo como existe pessoas que se encontram se tudo que presenciei foram desencontros.
Enxotados, cansados, reprimidos, desgastados. Desencontros.
Ou encontros avessos numa pista contrária.
Ou encontros paralelos onde linhas não se cruzam.
Ou formigas e aleluias indo na mesma direção, porém uma com pernas, outra com asas.
Tanto faz.
É deixando meu coração que continuo meu caminho.
Não deixando contigo. Deixando-o só.
Quem sabe assim ele aprenda a conter-se e contentar-se em viver apenas consigo mesmo.

Chamada perdida


A: Vi uma chamada perdida. Me ligaste?
B: Foi um engano.
A: Tudo bem.
B: Tudo bem?
A: Está. E você?
B: Sim. Está mesmo?
A: Por aparência sim, transparência não.
B: Eu imaginava.
A: Culpa?
B: Alívio.
A: Deverias saber o quanto isso machuca.
B: Eu imagino, só não me importo.
A: Eu queria, mas assim desisto de tentar.
B: Me faz sentir bem sabendo que existe alguém assim!
A: Então porque não se entrega?
B: Não quero. Não me faz falta.
A: Eu deveria ter notado antes.
B: Eu preciso sair.
A: Tud...

Mudo.

Essa é a última vez


Morreste por teu próprio silêncio. E agora, quem te salvará?
Tarde demais.
Ela já havia dito que faltava pouco para a porta da graça sentimental se fechar.
Ela se foi.
Por muito ela chamou e esperou. Por muito ela avisou.
Nada aconteceu.

Ela deixou de ser quando te perdeu.
Ela voltou a ser quando te reencontrou.
Ela quase desistiu quando não te viu.
Ela viu que precisava mudar.

Sentia-se só, incompleta.
Andou e desandou por vários caminhos.
Pensou, chorou, escondeu-se e decidiu.

Sofreu com sua própria decisão.
Foi difícil abandonar o próprio coração.

Viu-se repleta de mundo ao seu redor.
Viu que seu próprio mundo era nada.

Ela não falou de ti, porque tu não existes mais. Porque tu nem deverias existir.
Habitaste demais um lugar que não era para ti.
A morada é dela, então retire-se daqui.

Ela já não existe mais. Deixou este plano para elevar-se.

Exception


Eu sou diferente.
E não sei por que, só sei.
Nunca pensei igual, nunca agi igual.
Sempre discordo da maneira como as coisas tendem ser neste mundo.
Sou contra a maré.
E não entendo o por que, só sou.
Seria fácil se eu só agisse como todos, mas não.
Já tentei, não deu certo.

Perambulei por vários caminhos. Nenhum é o meu.
Graças a isso coleciono feridas que corromperam meu viver e cicatrizes com a missão de lembrar-me para sempre dos erros que me destruíram.

Eu estou certa agora. Eu estou no caminho certo.
Mas ainda falta, sempre falta.

Eu sou diferente, e eu não sei por que.
Não gosto de comparação. Porque eu ajo diferente.
Me perdi, mas já me encontrei.
E encontrando-me, infelizmente, vejo que a mim eu me basto.


Você foi tudo que eu vivi


Já ouvi falar em amor calmo. Já tive o desprazer de viver um. Agora evito.
Andei jurando estar contida pisando em terra firme, mas quando me dei conta estava lançada num amor violento. E não por ser tão violento, mas por vagarosamente e impiedosamente dilacerar o coração.
Ao mesmo tempo viciando e pedindo sempre mais. Mais presença, mais carinho, mais discussão, mais dor, mais amor.
Amor mau. Porém amor.
Inevitável querer parar.
E a cada segundo distante como se um pedaço meu fosse sendo arrancado com muito custo levando também consigo um pedaço da alma.
Foi incrível no princípio, trouxe dependência, trouxe alegria, trouxe intimidade, trouxe tudo. Inesperadamente veio a rasteira jogando para o ar tudo o que havia.
Tarde demais, alicerces já haviam, vícios se mantinham.
Infelizmente entre nós não havia algo de que nunca planejamos. Recomeço.
E ao nos lançarmos em órbita, jamais retornamos a estabilidade gravitacional. Tudo passou a flutuar, nada mais fixou-se no chão do nosso plano.
Então de avassalador, passou a ser devastador. Consumindo tudo o que de bom que havia restado.
Desavenças, descrenças, desistência, derrota mútua, força sumindo, vontade desaparecendo.
E como se já não bastasse a infinidade de falta de frequência, um amor que jamais sumia.
Amor que, assim como o universo, tende a expansão eterna. Assim como continua sendo, assim como continuará.
Agora distantes, agora deixando com que a falta de esperança predomine, já não mais vivo pensando constantemente, mas isso não quer dizer que não exista mais amor.

Se houve algo que eu aprendi durante todo esse tempo, é que se pode amar incondicionalmente a cada dia mais, e que não importa o que se passe, o amor continua sendo eterno. Mas simplesmente amar não significa que continuaremos seguindo eternamente a mesma estrada. Rumos são sempre diferentes, e nem sempre seguimos na mesma direção.
Aprendi também que pode viver distante mantendo apenas o coração batendo próximo ao seu.
Mas não se pode forçar corpo onde não há simultaneidade.

Amor intenso.
Duas vezes.
Duas decepções.

Para que voltaste?


Fui relutante ao encontro de meu passado
Evitei chegar aos pontos que eu sabia que sangrariam
Mas eu só podia garantir a mim, não pude controlar suas palavras.
Tentei por vezes te abandonar, consegui.
Mas se tu não conseguiste, então é o mesmo que nada.

É muito fácil viver com a ausência, difícil é se acostumar.
Não é impossível conviver com a falta, mas quando se depara com o desejo se vê o quanto sofre.
Omitir que falta não faz, que se pode viver, que se pode esquecer é mentira, é farça.
Teatros pessoais, teatros emocionais, simplesmente teatros.
Engana-se o mundo, mas não engana a si.
O mundo não importa, importa somente meu mundo, e se nele estás, e se dele não consegues sair, é a mim mesmo a quem peço socorro.

Foi um passado bom, foi um passado ótimo.
Há amor, mas só amor nunca basta.

ps: Espero que estejas bem, espero que não sofras como assim dizem as palavras.

Soneto da liberdade


Senti-me meio distante
novamente guardando planos feitos
lembrando dos seus muitos jeitos
Estocando-os por entre a estante.

Te senti sem pena partir
talvez aqui nunca esteve
ou então minha mente não conteve
a alegria que de ti me fez sorrir.

Busquei então em vão te achar
buscando até me sentir sangrar
vi meu coração aberto, já não moras mais em mim.

Fiquei sem chão, não mais sorri
imersa em dor então sorri
Melhor sem ti, estou livre enfim.

Reciprocidade. Aonde?


Imersa mais uma vez em devaneio me pego pensando sobre tudo que é recíproco.
Concluo irrevogavelmente que não existe reciprocidade.
Procurar por isso é ir intensamente atrás de um pote de ouro no fim do arco-íris, ou seja, simplesmente não há.
Um sempre amará mais que o outro, um sempre doará mais que o outro.
Não nego minha profunda tristeza por essa conclusão. Claro, em tudo há excessão.
Mas não é de minha excessão que falo hoje. Falo em forma geral por tudo que tenho visto e vivido.

Decidi então viver por mim, por base naquilo que sei e em minha própria linha de juízo.
Ora, já estive em profunda agonia, mas sempre soube o que fazer.
Uma dúvida que outra necessitando de opinião. Mas sempre fiz aquilo que aprendi ao longo de minha vida.
Decidi também que afastar-me-ia de todos aqueles que me sugavam e deixavam-me fraca por tanta insistência ao erro enquanto eu insistia no certo.
Afinal, quem sou eu? Ninguém. O que é minha opinião? Nada.
Minha opinião vale somente à mim.
Então percebi o extremo egoísmo que me cercava.

Se há quem fale comigo, é porque se precisa. Talvez àquela opinião, àquela ajuda.
E se dirigem-se a mim, por hora, devo ser pouco importante, que seja.

Não importa quanto laço eu leve, não importa quantas vezes eu chorar por falta de reciprocidade...
Eu jamais abandonarei, porque a índole sempre domina qualquer pensamento.

Concluo então que minha outra conclusão é meramente vã e sem propósito.
Afinal, se temos o dom do Espírito que é o amor, tudo passa e tudo suportaremos.
Vai doer sempre. Vai machucar e novamente vou querer fugir.
Mas não. O amor é sempre maior... O amor deve ser sempre maior.


Simplesmente amar


Era frio como agora.
E já me bastava ficar perto.
Era tanto êxtase que somente sua presença já alimentava minha alma.
Em meio a tantos tremeliques me vi cercada da realidade.
Sim, você estava ali.
E passou frio, e passou calor, já nem me dava conta mais...
Tudo que eu vivi naquele momento foi o seu sorriso.

Como se já não me bastasse a minha euforia por estar tão perto
Logo me vem sua respiração ofegante para me confundir.

Há quem diga que era evidente o que estava acontecendo ali.
Ainda assim preferi me conter.
Momentaneamente.
Hoje já tenho certeza.

Te preciso que mal posso conter tudo o que existe dentro de mim.

ps: Tão insignificante, porém tão preciso.
E não é para nada disso fazer sentido. É somente para amarmos.

Pensamentos de um ébrio


Estou vivendo tão ebriamente que já esqueci de mim.
Não. Não esqueci de mim.
Contraditóriamente sim.
Mas o que é razão depois de poesia pós poesia dominando dias sem se preocupar em sair do papel e assombrar a vida que fez o cinza tornar-se cor?
Não posso fugir se já estou embriagada do teu ser. Tonta e imersa na profundidade do meu eu com você.
E no fundo do corredor onde já passou tanta agonia e infelicidade eu estou...
Não somente estou como espero. E não somente espero como estou aberta.
E também não somente aberta, mas também querendo que estejas, assim como eu, desesperado para saciar a sede do invisível que transparece em nossa alma, o amor.
Sabendo que é loucura jogar-se em um oceano incerto, o perdão seria impedido de predominar caso não haja entrega.
E daí se é loucura?
Se definirmos amor como loucura, todas as mentes sãs implorariam para tornar-se insanas.

Conseguir respirar em meio ao amor quer dizer que o amor é certo.
É certo até você perder o chão devido a tanto tremer.
É esquecer que estamos no inverno por tanto sentir correntes de calor perpassar contínuas vezes em nosso interior.
E cair na tontura por timbre e voz que são a chave que nos libertam para o mundo que é tanto almejado e difícil de encontrar.
Sim, esse é meu lugar.
E tudo torna-se ebriamente ébrio.
Tornar o amor real é abster-se da abstinência que se chama você.
E poder gritar com toda força que SIM... Vale a pena arriscar.
Sumir de mim, unir-me a ti.



Entrega


E nessas de se perder e de se achar encontro-me mais uma vez na porta da indecisão.
Indecisão, desnecessária indecisão!
A quanto tempo cercada por paredes invisíveis e intransponíveis.
Perceba. O sofrimento é optativo.
Não importa quanto seja, você tem a escolha entre sofrer e não sofrer.
Podendo escolher sofrer, você sofre... Mas você pode não sofrer sofrendo.
O que não tem solução, solucionado está. Então o choro momentâneo obviamente é desnecessário se assim for da sua vontade.

Decidi hoje não sofrer. Não mais.
Sofrendo sozinha, abandonada, às escuras.
Quem vê? Quem se importa?
Ninguém. Por mais duro que isso seja.
Carregada sempre por incertezas, a única certeza que nos cerca é a solidão.
De tudo, isso não é o mais ruim.

Hoje eu decidi viver.
E pouco me importa se é com ou sem você.
Já viste quantas vezes apelei?
De todas as vezes, quantas delas voltaste a mim e resolveste corresponder?
Eu não quero fobia, quero alegria.
De fobia somente me basta. Basta somente meu interior gritando por aquilo que não se tem e já com medo de perder.

Entrego agora todo o sentimento.
Entrego agora todo o tempo vivido até aqui.
Sim, entrego tudo o que sinto ao vento, ao que me trouxe essa brisa.
Ao vento porque é sempre o mesmo, porque vai e volta, e se tiveres de voltar, o vento novamente trará.
De tudo que me cabia, agi.
Mais do que isso é pedir demais. O resto depende somente de você.

Indecisão saciada. E quanto a sua fobia? (...)

Te faria feliz, mas primeiro me farei.

"São passos que eu não vou seguir, o destino é tão longe daqui."
(Lucas Silveira)


Não te cales


Se eu pedir para não calar tua voz, adiantaria?
Segui por vezes as notas musicais que emitia com tanta verdade.
Sumimos de nós mesmos. E quando voltamos faltava algo.
Senti falta da canção.
Mas canções ainda se pode ouvir... O que paraste de emitir foi as notas.
E se o infinito parasse de ser infinito impedindo-nos de poder viver novos dias?
A estrada precisa ser pintada, precisa ser continuada.
Feitos passados, no passado ficam.

Se eu pedir para continuar, adiantaria?
Agora eu continuaria ao seu lado, e não mais deixaria-te só.
Força e mais força se unindo resulta a trabalho feito.
Construiria com toda a alegria existente em meu coração muitas sinfonias perfeitas.
E não só isso, mas construiria novamente tudo o que o tempo derrubou.
Juntos conquistaríamos todos os tons.
Pois vozes diferentes completam uma canção.

Se eu simplesmente pedir, adiantaria?
Literalmente duas pessoas.
Uma canta, outra encanta.



Hoje eu não queria escrever sobre amor


De repente eu estava lá.
E eu não esperava te encontrar. Na verdade eu não esperava encontrar ninguém.
No primeiro olhar, tudo sumiu diante de mim e só restou uma coisa... Você.
Fui me aproximando sem notar o que estava ao meu redor. Tudo tornara desinteressante para mim.
Momento épico. Inexplicável.
Jurei que ficaria ali tudo o que eu senti fortemente.
Mas ao me virar e prosseguir em meu caminho, percebi que havia deixado algo para trás.
Meu coração.
Naquele momento onde só existia eu e você, nem sequer percebi que meu coração flutuara junto ao seu no espaço paralelo a nós.
Difícil sempre foi amar. Fácil foi amar você.
Impossível seria se não tivesse sido você.
Mas você consegue se fazer excessão para mim, sempre.
Outra vez uma força invisível puxou minha essência e fixou à sua.
As vezes eu gostaria de ter a chave dessa corrente inquebrável que me une a você.
Porém eu não sei se essa chave existe.
Por hora nem quero pensar, quero somente viver.
Viver intensamente ao lado do único alguém que consegue fazer minha cabeça sem que eu precise pensar.
Eu adoraria me soltar a você pela razão. Mas o coração é sempre maior e o amor que eu sinto manter-me-há unida a ti eternamente.

O tempo de espera


Você foi a minha maior dor. Meu maior amor.
Pedaços de mim não negam a estadia de sua presença.
Também não posso omitir a nostalgia, mais uma vez, me dominando.
Não, eu não estou buscando novamente o que já passou, pelo contrário, quero vida nova, quero nova história.
História futura que não mais exista dor e sofrimento como outrora.
É que flutuando por entre somente possibilidades tudo o que me resta é a firmeza da nossa antiga vida.
Embora hoje estejamos melhores, antigamente era diferente.
Hoje é diferente.
Hoje é possível.
Pensando demais, me pego matutando se é isso que realmente quero.
Utopia sempre doeu, mas é a utopia que nos alegra.
E quando sua utopia tem chance de se tornar real? Como você reage?
Eu costumo enjoar fácil do que me torna acessível.
Mas talvez não estejamos tão acessíveis assim, e é por isso que só existe um mar de possibilidades.

Ouvi um 'É aqui que eu quero ficar.' Isso foi o que eu sempre quis ouvir.
E de repente sinto precipitação, sinto rapidez.
Por mais amor que eu sinta, sempre soube esperar e agir de acordo com o tempo.
Nunca agi conforme as palavras me vinham. Agi como quem sabe o tempo certo de tudo acontecer. E assim continuarei a agir.

Por um tempo procurei em outras pessoas aquilo que só existe em você.
Sempre será em vão. E sempre será somente você.
Só peço que não me faça sentir especial para depois abandonar-me, outra vez.
Estou curada. O passado já passou.
O que me assola é o intrigante futuro imprevisível.
E como todas as noites, o que me resta é adormecer na penumbra dos meus desejos.
Sem saber se eles se tornarão reais.

Sempre soube esperar, saberei esperar mais um pouco.
Mas não esperarei para sempre.





Imergida


Estou em demasiada nostalgia.
O tempo passou, mas deixou a dúvida de ser ou não ser.
Eu queria poder ter entendido as entrelinhas do tempo passado.
Porém conduzindo a esperança me vi cega por momentos inventados.
Tudo foi vivido. Somente foi de diferentes maneiras.
Mais tempo... Tentando seguir.
Ainda existem marcas pelos cantos. Vestígios de você, dá sua -não mais- presença.
Mais do que inesperado, me vi banhada, mais uma vez, não de lembranças, mas de sua pessoa.
E involuntariamente todo sentimento que demorei anos para estocar em meu peito, aflorou em dobro tirando-me do meu estado de normalidade sentimental.
Antes firme, agora pisando em uma ponte que tende a cair.
Eu já havia desistido de sonhar, de pensar.
Filosofando que o melhor era simplesmente viver o agora.
Discursando abertamente sobre o prazer de não me sentir instável.
Então questões e possibilidades re-surgem.
Treme meu chão. Meu mar calmo se revolta contra mim mesmo, e mais uma vez já não sei para onde ir.
Em meio a tempestade eu disse: "Tudo passou, agora só parece um rio calmo."
De fato, rio calmo, contradição, uma possível enganação e uma vontade súbita de arriscar.
Lembranças atacam-me novamente. Lembranças fracas por tanto tentar apagar.
Já estou escrevendo por cima delas, de novo.


Estou em demasiada nostalgia. Um tanto quanto desse não é bom.
Intensamente imergida.

Heroína


Estou indo à loucura.
Mas talvez esteja sensata. Senão não chegaria a essa situação.
A verdade é que ao mesmo tempo que me matas, me dás vida.
E não há motivo para parar de me injetar contínuas vezes esse veneno que se chama você.
O problema é depois precisar de uma dose maior ainda de morfina, que é a dose em dobro de tudo aquilo que me injeto para poder me ver com você.
A verdade é que longe ou perto o efeito é o mesmo.
Mas talvez eu esteja perdendo meu chão.
Ou talvez eu esteja bem pregada nele.
E nada me faz querer sair daqui ou parar de viver essa felicidade.
Felicidade essa que é eterna se realmente for amor.

E o nada passa a ser tudo


Você soube como eu era. E foi assim, só de olhar.
Frequência simultânea.
Você reparou o que eu era. Isso enquanto eu andava fitando o horizonte.
O vento, meu amigo de passagem, jogou meus cabelos contra minha face. Propositalmente. Ele fez com que eu me voltasse à você.
Imediatamente percebi que o mundo que eu habitava já não era mais vazio. Havia um semelhante.
E na mesma linha da classificação dos sonhos estávamos nós.
Poesia marcante.
Música presente.
Acordes semelhantes.
Involuntariamente cantávamos a mesma canção, na mesma sintonia.
Vozes opostas, mas isso é o que faz a música ser completa.
E quando a unica nota que eu possuia era incapaz de fazer canção alguma, a sua entrou para completar a música, que antes minha, passou a ser nossa.

Tão simples achei que a vida poderia ser sendo sozinha, que não me importei em saber como ela poderia ser se pintada fosse.
Agora decorada de apenas nós, vejo que tudo é tudo, e nada também é sempre tudo se estivermos juntos.
E "... não há fronteiras, o amor rompe barreiras."

Inferno


Estrada. Rachadura. Caindo.
Não estou chegando ao fim, buraco sem fundo.
Mergulho. Não é sólido, mas pelo menos é líquido.
Procuro a margem, nado para lá.
Não existe nada, e o nada que existe é terrível.
Borbulhas. Mais rachaduras - como pode haver mais abismo?-
Infinito à minha frente, não sei para onde ir.
Andar, andar e andar. Acho que ainda assim não conseguiria em nenhum lugar chegar.
E eu que pensava saber o que era a solidão. HÁ! Ninguém sabe. Porém agora eu estou vivendo.
Paro. Penso. Não devo parar. Continuo?
Afirmo: Perder-me-ia se louca fosse de tentar cruzar esses labirintos.
Já devo estar perdida. Aonde estou? Não me atrevo a dizer.
Calor. Suor. Calor. Fogo.
Estou suando frio, acho que é medo.
Medo do desconhecido? Medo de saber que isso eu bem conheço.
Essa voz há de me assombrar. Essa voz há de me enlouquecer.
Poderei eu explicar? Poderei eu transmitir tudo que sei?
Poderá essa voz se calar?
Sugar-me-há até que não haja mais suspiro em mim.
Aonde eu estou?

Outros definiriam como inferno.
Eu defino como Panthy.

[Isso é real, isso não é real. Isso é brincadeira, isso é verdade. Isso é para a Panthy, parte é o que eu sinto.] Não é fácil conviver com o capeta!


Um tempo livre seria bom


Hoje eu decidi que não.
Não vou me deixar levar - outra vez - por suas mensagens subliminares pra me fazer lembrar.
Eu até gostaria de ler tudo o que escreves, mas não faria sentido mergulhar em outra versão de nossa história, não agora, não de novo.
Não sei o que me assombra mais, se é o passado sempre vindo a tona impedindo-me de esquecer o que passou ou o futuro lastimável sem você.
Foi bom ouvir novamente de sua própria voz dizeres que ainda me amas, mas ainda não é suficiente. Nunca será.
E, infelizmente, é confirmada a linha que o destino nos impõe diariamente... Andar sempre em paralelo.
Olho pra frente e não há como te ver. Só te vejo se olhar para o lado.
Nossas linhas não se cruzam, mas ainda assim posso acompanhar o seu caminho.
Acompanhar desse jeito. Distante. Sem poder opinar.
Não existe frequência, e amor não basta.
Se um dia nossas linhas se cruzaram, como podem elas agora estar em paralelo?
Talvez tenha sido apenas um desafio que nós mesmo colocamos a nossa frente.
Amor a dor, talvez.
Certos amores não precisam ser vividos. O nosso era assim. Um tanto quanto impossível.
Mas nós tornamos real, temporariamente.
Real foi até cairmos na real realidade, brusca, tensa, cansada, chata e desinteressante.

Se tanto dizes para mim, e já não quer dizer mais nada.
É o mesmo tanto que digo a ti, que nada faz mudar.
Ontem foi, hoje não mais, nunca mais será.
Passado eu e você, presente eu sem você, futuro você pra sempre em mim.


Cura


Achei que seria difícil sumir de ti. Mas barreira agora existe, separando-me de minha própria vontade de voltar a ser seu.
Confesso que as idas e vindas custaram a tornar o meu amor menos intenso, porém não deixei de amar, muito menos de sofrer. E imaginar-me distante do calor inigualável que sua falsa proteção me proporcionara por longos dias estava fora de questão.
A verdade é que não se pode eliminar sorrisos, lembranças, carinho, amor e o tempo que passamos juntos, -que não foi pouco-.
Sempre fui feliz com você mesmo nos momentos de dor sufocante. Na verdade a sua presença aliviava a pressão que me consumia lentamente e sua imagem ajudava-me a concentrar no fixo, no real, em nós, e na pureza de tudo que podíamos viver.
De tão real que achei ser, que pude fixar a ilusão de que não acabaria. De que somente aumentaria e prolongaria nossa vida e unisse nossos caminhos pela eternidade.
Turbulências vieram. Umas fracas, outras fortes. Outras que quase fizeram nosso mundo cair, mas permaneceu por ser forte, por haver amor. Para pouco tempo depois perceber que não era apenas amor, e sim possessão, doença.
E tudo tremeu, e ainda que de pé os edifícios que criamos, não bastou muito tempo para desmoronar um à um. Como gigantes pisando em uma terra sem se importar com o que há embaixo, assim fizemos com toda a arquitetura que projetamos durante alguns anos - poucos comparados ao quanto achamos que viveríamos juntos -.
E coisas vieram. E pessoas passaram. Pouco a pouco nos levando em direções opostas. E sem com que percebêssemos, já não permanecíamos na mesma sintonia, na mesma freqüência.
Dor terrível passei. Dor imensa que cheguei a ponto de imergir meu próprio corpo nas águas congeladas para poder ver se conseguiria tirar a dor e o calor do peito transmitindo-os para fora através do frio.
Foi duro e não foi pouco. Mas dia pós dia consegui transferir o gelo de fora para dentro e o calor de dentro para fora. E não foi por querer, mas por necessitar.
Lutei para não pensar por meses. Creio que você também, se bem te conheço, ao menos sei que te conheci. Se mudaste já não sei.
Não mais sacio minha sede com próprias lágrimas vindo de lembranças do que vivemos.
Mas pelo menos agora já posso lembrar sem dor, e confesso que as vezes consigo sorrir. E a lembrança da tribulação que fez com que nosso avião caísse já não é mais tão grande a ponto de me provocar algo ruim, eu já nem lembro porque fizemos ele cair. Mas lembro com exatidão daquilo que nos fez sorrir.
Eu sempre te encontro, confesso isso agora. E sei que não me vês. Nem é preciso, nem ao menos faria sentido.
Não conversamos mais, nem desejo, nem queres.
Mas o que nos une é saber que passamos pelo mesmo, e ambos vencemos. E se tu não venceste, consegue guardar muito bem em seu peito, pois a imagem não me diz mais nada. Já não somos mais espelho um do outro.
E passamos por tudo isso juntos. E agora acabou. E o nós acabou.

Eis a questão


Sou. Não sou.
Na verdade eu não sei.
Quem poderia me dizer?
Beijar-te-ia se pudesses me dizer.
Ora, de que lado estou?
Hora cá, hora lá.
Feliz seria se soubesse onde me encontrar.
Se preso em mim estou
Se daqui não posso fugir
Por que perdurar pensamentos que não hão de prosseguir?
Caminho certo, talvez errado
Não me perderei, pois ninguém o fez traçado.
Não julgue meu sentimento
Confuso é, mas puro está
Se meu lugar não é aqui
Ali seria ou acolá?
Se realmente olhar e ver
Mostrar-te-ia o que em mim há
Mas se eu deixasse transparecer
Entenderia porque chorar.

E se de mim quiser correr
Se fechado em mim pra sempre estou
Não há a quem recorrer
Cansado enfim, insatisfeito vou.


Liquidificador


Um lado
Uma idéia
Um pensamento
Uma vida.
Ninguém nos diz que caminho seguir, mas sempre impõe de certa maneira.
E se eu quiser correr ao lado oposto?
Uma palavra: Abandono.
Igual.
Por que tender a ser igual?
Igualdade sim é falta de personalidade.
E mesmo sem gostar partir para o desconhecido conhecido sabendo o que se encontra se aventurando gratuitamente por imposição mútua de parceiros cegos que também não sabem para onde ir.
Todos condicionados a mesmice de não saber quem é, e condicionados a seguir a direção que lhes é passada involuntariamente por outros, que já perdidos, não conseguem se livrar do êxtase efêmero de um prazer vazio.
Pensamento divergente resulta a isolamento.
Como águas rápidas e violentas tendendo a seguir uma direção que lhes é imposta sem saber porque, correndo por um penhasco gigante e caindo para o fundo até não se poder mais descer. Porém não para, vai, continua, sempre insistente procurando por algo que não se pode achar - que nem ao menos sabe o que é-.
Poder discordar é uma virtude por não mais estar preso em correntes que prendem a humanidade.
Você está sendo triturado juntamente com todo o resto.
E lutar contra a força da água... E lutar contra a força de tradições e costumes...
E lutar contra pessoas...
Cansa. Esgota. Dói.
Enquanto o coração endurece...
Você liquidificador.
Liquidifica a dor.