
Achei que seria difícil sumir de ti. Mas barreira agora existe, separando-me de minha própria vontade de voltar a ser seu.
Confesso que as idas e vindas custaram a tornar o meu amor menos intenso, porém não deixei de amar, muito menos de sofrer. E imaginar-me distante do calor inigualável que sua falsa proteção me proporcionara por longos dias estava fora de questão.
A verdade é que não se pode eliminar sorrisos, lembranças, carinho, amor e o tempo que passamos juntos, -que não foi pouco-.
Sempre fui feliz com você mesmo nos momentos de dor sufocante. Na verdade a sua presença aliviava a pressão que me consumia lentamente e sua imagem ajudava-me a concentrar no fixo, no real, em nós, e na pureza de tudo que podíamos viver.
De tão real que achei ser, que pude fixar a ilusão de que não acabaria. De que somente aumentaria e prolongaria nossa vida e unisse nossos caminhos pela eternidade.
Turbulências vieram. Umas fracas, outras fortes. Outras que quase fizeram nosso mundo cair, mas permaneceu por ser forte, por haver amor. Para pouco tempo depois perceber que não era apenas amor, e sim possessão, doença.
E tudo tremeu, e ainda que de pé os edifícios que criamos, não bastou muito tempo para desmoronar um à um. Como gigantes pisando em uma terra sem se importar com o que há embaixo, assim fizemos com toda a arquitetura que projetamos durante alguns anos - poucos comparados ao quanto achamos que viveríamos juntos -.
E coisas vieram. E pessoas passaram. Pouco a pouco nos levando em direções opostas. E sem com que percebêssemos, já não permanecíamos na mesma sintonia, na mesma freqüência.
Dor terrível passei. Dor imensa que cheguei a ponto de imergir meu próprio corpo nas águas congeladas para poder ver se conseguiria tirar a dor e o calor do peito transmitindo-os para fora através do frio.
Foi duro e não foi pouco. Mas dia pós dia consegui transferir o gelo de fora para dentro e o calor de dentro para fora. E não foi por querer, mas por necessitar.
Lutei para não pensar por meses. Creio que você também, se bem te conheço, ao menos sei que te conheci. Se mudaste já não sei.
Não mais sacio minha sede com próprias lágrimas vindo de lembranças do que vivemos.
Mas pelo menos agora já posso lembrar sem dor, e confesso que as vezes consigo sorrir. E a lembrança da tribulação que fez com que nosso avião caísse já não é mais tão grande a ponto de me provocar algo ruim, eu já nem lembro porque fizemos ele cair. Mas lembro com exatidão daquilo que nos fez sorrir.
Eu sempre te encontro, confesso isso agora. E sei que não me vês. Nem é preciso, nem ao menos faria sentido.
Não conversamos mais, nem desejo, nem queres.
Mas o que nos une é saber que passamos pelo mesmo, e ambos vencemos. E se tu não venceste, consegue guardar muito bem em seu peito, pois a imagem não me diz mais nada. Já não somos mais espelho um do outro.
E passamos por tudo isso juntos. E agora acabou. E o nós acabou.
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