21:21

 


Costumávamos contar as horas

Inevitavelmente

E compartilhar a sincronicidade

Do nosso amor.


Costumávamos conversar o dia todo

Independente da distância

Mais de mil quilômetros 

Ou a 5 minutos de distância.


Costumávamos compartilhar tudo

Uma foto estranha de um momento

Um pensamento não assimilado 

Um prato da refeição.


Costumávamos conversar por horas

Rir de tudo

Fazer planos

Imaginar viagens 

Uma vida onde para nós, 

O fim nunca pareceu uma possibilidade.


E agora.

Compartilhamos sincronicidades? 

Conversamos o suficiente?

Compartilhamos nossos pensamentos?

Nossos sentimentos? Nossos sonhos?

Rimos? Fazemos planos? 


Imaginamos um fim. 

Ou estamos perto de vivê-lo.

Beleza

 



Viver de arte não é viver na inspiração 

É viver na tempestade que as emoções trazem

E por não conseguir assimilar sozinho

O sentimento vira arte.


Um produto da dor

Da luta

Da lágrima 

Do sofrimento indigerível.


E aí 

As pessoas olham e dizem: 

“Que belo!”


A beleza que dói

Que arde 

Que dilacera.


Beleza?

A beleza precisa doer no outro para ser bela?


Mas o poeta é assim.

Transforma a dor em arte.

Matin

 


No horizonte ao longe

Nasce a Aurora

A cama é quente

Não quero sair

Não quero acordar.

É custoso dormir

Quando durmo, quero permanecer.

No sonhos há possibilidades infinitas

Que surgem de circunstâncias que não são as atuais.


O sol brilha

Nem sempre quero me expor a ele

A manhã se ergue.

Seu toque gelado promove um certo conforto

Porém eu acordo. 

Não sei se quero acordar.


Não há nada que eu queira fazer

A manhã segue

E se consome.

Penso em arrumar tudo

Só para não te ouvir reclamar.

Mas já não me identifico com as reclamações.

Me deixo de lado. 


A manhã me deixa

O sol brilha

O coração bate

Meu olhar não tem o brilho

Meu corpo não tem a força

No meu íntimo não resta a vontade.


O que resta

 


O que será que resta entre nós?

Não consigo pensar no que resta, sem pensar no que antes foi.


Despeço-me lentamente

Derreto juntamente com as lágrimas

que a gravidade se encarrega de levar para baixo.

Descarrego a catarse incansavelmente 

porque não há como deixar de sentir.


Questiono-me:

Até quando sentirei essas dores?

Pois quando penso que não aguento mais o sofrimento

Milhares de pedras se voltam contra mim

E me mostram que, apesar de tudo isso, sou forte.

Forte o suficiente para aguentar.


Mas até quando?

E o que é que nos mantém?

Qual é o elo que, ainda que por um fio, ainda existe?


O que é que ainda resta?