Woke up

 



Nascemos adormecidos no fundo de um oceano profundo.
Todos dormem ali. 
Um brilhante sonho coletivo que chamamos de "realidade".
Há um egoísmo imenso plantado nos corações. 
Há um rechaço com quem questiona se aquilo é realmente o sentido que devemos seguir.
Pregam amor, compaixão, solidariedade, mas o coração é uma âncora que guia as profundezas do sono mais profundo. 

Esse oceano é um mar de lamentações, agonia e melancolia.
Apegam-se a nostalgia sempre sentindo falta do que já foi, mesmo sendo tão ruim como sempre é.
Parece que o passado é algo tão doce e o futuro algo tão esperado...
E nisso esquecem-se do presente. O único tempo que temos.

As vezes sinto meu esôfago arder com essa sensação de sono.
E dói também ver que todos estão dormindo ao meu redor.
Mas a verdade é que não se pode respirar adormecido no fundo de um oceano, que por mais azul que seja, é irreal. 

Abro os olhos. 
Me espanto.
Choro.
Fico inconformada.
A percepção tridimensional é tão rasa.
Tão escassa. 
Tão enganosa.
E é ali onde todos se fixam... Céticos... Conformados... Cegos.

Ainda com os pés fixados na areia do fundo do mar olho para cima e vejo uma réstia de luz.
Pego um impulso e subo.
E pela primeira vez sinto o ar entrar pelos pulmões.
Respirar livre. 

A realidade não é o que vemos com os olhos.
Não é o que fazemos com o corpo físico.
Não é mecânica.

A agonia e a reclamação já não faz parte de quem subiu a margem. 

E é só o início.


Despertar

 


Há uns três anos uma força externa sem o meu controle empurrou meu carro de uma montanha e meu carro se desgovernou. 
Eu saí da inércia.
Jorrou-se uma aventura no meu interior. 
Algo que eu nunca soube e nem saberei explicar.
Conheci o desconhecido.
Duvidei e comprovei.
Experimentei.

Um mundo novo se abriu diante de mim.
A trivialidade perdeu o sentido.
A busca era o caminho.
Fazer do sentido da vida se exaltar, porque pra frente já vai.

Porém, a busca pela verdade não é um caminho de rosas e borboletas azuis.
É, na maioria das vezes, escuro e solitário.
A busca pelo conhecimento é uma busca árdua.
E para seguir demanda-se muita coragem.

Foi aí que pestanejei. 
Fiquei com medo.
Deixei que o medo me parasse. 
Deixei de seguir.
Mas sempre ia até a beira da caverna tentar espionar o que havia lá dentro.
A escuridão sempre me impediu de ver.

Busquei então uma maneira mais concreta de acessar o conhecimento.
Algo que não assustasse.
No entanto, caí num mar de ceticismo. 
Cansei.

Hoje algo se moveu dentro de mim.
Algo tão forte que me tirou da inércia novamente.
Dessa vez não foi uma força externa que empurrou meu corpo.
Mas sim uma força interna.
Um motor forte que clama para que eu me impulsione.
Dessa vez eu não vou negar essa voz.

Comprometo-me então comigo.
Pela busca do conhecimento.
Pela busca pela luz.
Pela paz que há no fim do túnel.
Comprometo-me a ter disciplina e foco para não pestanejar novamente.

No fim. 
Isso é o que todos temos que fazer. 
Feliz é aquele que desperta.


Percebi que não sou artista



Sempre vivi coberta por um mar escuro.
Um breu sofrido com pouca esperança em se encontrar com a luz.
Percorri milhares de quilômetros para perceber que a essa luz não está nesse mundo.
Percebi que enquanto eu procurar a luz de forma física, não encontrarei.

A luz vem de dentro.
Demorei para saber que só eu tenho o poder de acender.
E com isso ascender.
Pode ser que quando a gente acha que tudo vai acabar é onde tudo vai começar.

Mergulhei no meu infinito
Esse que me conecta com o Todo
E vi que é tudo maior do que eu achei que sabia
O que vemos... Nada é.

Busquei conhecimento
Que ainda é nada comparado a tudo que preciso viver e saber
Encontrei alguma paz.
Me entendi.
Me compreendi.
Me aceitei.

Percebi que não sou artista
Sou um pincel.
Parte da obra.
Parte do Todo.

Sou e pra sempre serei um pincel quebrado
Com cerdas rebeldes
Dessas que borram o desenho.
Percebi que posso encontrar a paz
Mas que meu papel nessa obra necessita do escuro.
Necessita da catarse.
Necessita da dor.

Sinto que não estou ancorada.
E agora estou de bem com isso.
A obra precisa do pincel quebrado com cerdas que manchem a folha.
A obra perfeita é a intensão e não as imperfeições que se mostram no papel.

Sei que minha missão requer entender a dor do mundo
E para entender preciso sentir.
E dói.
E me sinto tão pequena e incapaz de resolver alguma coisa.
Mas tudo está bem, porque não sou artista...
Sou parte da obra, sou o pincel.

Para a dor passar é preciso passar pela dor.
Para ajudar alguém a se curar, é preciso saber como é não estar são.

A lágrima nem sempre é de tristeza, mas de intensidade.
De emoção.
De empatia.
De conexão.
De amor.

A dor não é o mal, é a salvação.


Além do que eu vejo



O que há por trás desse céu azul?
Essa redoma impenetrável só aumenta conforme se busca.
Milhões de anos luz e não se sai dela.

O que há além do céu?
Desse céu que podemos ver...
Seja da Terra ou do Espaço.
O que há?

Ver não se pode.
Sentir, talvez.
Fechar os olhos e alcançar a beira do universo.
Fechar os olhos e saber.

Esse saber não se explica.
Não se prova.
Não se discute.
Se sente.


De todas as certezas, se há alguma certeza...
É de que eu não sou daqui.

I don’t trust you anymore




Você vê?
Tudo denso outra vez.
Será que sou só eu que planto? 

Tenho escrito menos do que eu queria.
Menos do que eu deveria. 
Sabe porquê? 

Porque meu coração pula pra fora todos os dias.
Porque demoro pra dormir.
Porque tenho sonhos estranhos.
Sonhos tão fortes
Que minha intuição diz que são reais. 

Na noite passada sonhei com uma cobra. 
Sabe o que isso significa? 
O que vem à mente quando você tenta adivinhar? 
E hoje tive a resposta. 

O sonho estava certo.
A intuição estava certa.

Meu coração cada vez mais distante de você. 
De repente... Não existe mais confiança.
Não confio mais em você. 


“Meu coração na tua mão era o fim do mundo”

Mais uma poesia




Não me espantei quando vi que aquela poesia tinha tudo a ver com a gente.
Ela dizia algo sobre você morar por aqui.
No fundo, com aquele nosso jeito de olhar, eu pensei que você viria.
Mas você foi embora.

Já faz um tempo e eu nem me lembro mais do seu perfume.
Eu lembro que gostava.
Mas não consigo puxar da memória nenhuma referência exata.

Apesar daquela poesia dizer muito sobre nós.
Eu te fiz várias outras.
Inúmeras canções.
Talvez esse seja meu jeito de dizer que gosto de alguém.
Ou talvez seja um jeito de me confortar.

As vezes me perco no que é real e no que não é.
Será que eu interpretei aqueles olhares corretamente?
Será que inventei um significado na minha cabeça?
Ou será que eles queriam dizer qualquer outra coisa?

Aquele beijo foi perigoso demais
Porque ele afetou muito além do meu corpo.
Ele penetrou meus sentimentos e fez um rombo enorme no meu peito.

Dias depois estava eu apreciando uma ópera
Chorando a ponto de quase ficar sem ar
Um copo de vodka na minha frente
E depois disso eu fui te encontrar.

E você não apareceu.

Tinha escrito outras poesias mais...
E você não apareceu.

Saí de lá.
Voltei pra casa meio cambaleando.
Cheguei
Baixei as luzes.
E passei muito mal.

Parece que era o que eu precisava...
Acordei no outro dia muito mais sarada de você.
E segui minha vida.

Mas hoje acordei assim...
Nostalgica.

Ontem me veio a pergunta:
"Quem sou eu?"
E eu te respondo:
Sou alguém que transforma a dor em poesia.

Paradoxo



A busca é plenamente individual.
A missão é amplamente coletiva. 
As vezes o ego me diz que não vale a pena compartilhar o tesouro encontrado porque foi um esforço completamente solitário. 
As vezes sinto que só encontrei porque tenho a missão de compartilhar.
Ao mesmo tempo, o grau de preciosidade do meu tesouro não é compreendido pelas outras pessoas, porque seus tesouros ilusórios parecem ter mais valor.

Crio então um paradoxo mental.
A luta interna entre a verdade e o ego. 
E este processo me atrasa, porque fico presa a picuinhas egoístas que são propositalmente pedras no caminho. 
Obviamente elas tem um propósito.
Obviamente elas não querem que eu me encontre com a verdadeira luz.
E eu, ainda tão pequena, muitas vezes tenho meu caminho vedado por elas.

Quando a minha voz ruge, pode ser até mesmo desdenhada.
Ora, já fiz isso tantas vezes e por essas tantas vezes ignorada.
Senti que se ali ninguém me ouviu, é porque não é ali que devo estar. 
Mudei o sentido das minhas velas e tomei outra direção...

Mas já percebeu como esse mar é imenso?
Para todos os lados... Oceano, oceano e oceano.
Infinitos pingos d'água. 
E eu... Seguindo no meu barquinho solitário...

Não é que eu seja triste com isso.
Mas as vezes fico.
E em geral, é quando tenho um conhecimento totalmente superior na palma de minha mão, totalmente gratuito e voluntário para estender para alguém, mas esse alguém não entende a língua que eu falo. 
Meu coração se parte. 
E então, voltamos ao início.

Manter pra mim o tesouro. 
Viver no mundo que resgatei.
O verdadeiro.
Sozinha.

Mas eu encontrei este tesouro porque é coletivo...

Entende?
Paradoxo.