Whatever


Eu prometi que não iria.
Mas nem eu posso confiar em mim... Então tanto faz.
Depois de tanto tempo eu descubro que nunca soube onde minha mente esteve.
Quem eu era? Hoje eu não sei mais como pude criar um mundo tão diferente do que eu vivia e conseguir me transportar para lá, sem malas, sem nada. Mas era um ''nada'' que me sustentava tão bem que eu nunca senti falta do ''tudo'' que eu tinha.
Eu encontrei amor e esperança num plano tão inalcançável, que nem eu mesma sei onde ele fica hoje.
Tudo que me restou foram memórias que eu me esforço para revivê-las de novo. Mas não há mais chão.
E me pergunto: - por que eu quero tanto revivê-las? São memórias de um nada, memórias de palavras simples transformadas em um universo perfeito, sendo que nada nunca fez sentido.
Faz mais de um ano, e eu prometi que não... Jurei que nunca mais.
Mas ao mesmo tempo que tudo está tão claro agora, escurece parte de mim e se esconde por entre as minhas sombras.
Eu fui forte todo esse tempo. Mas eu não quero mais ser forte. Quero ser dura.
Quero ser dura para poder chutar forte, poder mover meu mundo devastado, poder saltar de novo LIVREMENTE. Sem peso, sem pensamentos, sem sentimento.

Não era isso que eu queria para hoje, eu fiz algo muito lindo -pelo menos para mim-.
Mas tá tão forte e tão incompreensível que eu desisto de tentar entender e me rendo ao mar e sua calmaria.

E é nessa hora que você vê que o melhor que se faz é dormir.

"Vê se não fica assustado quando eu digo...
Eu nunca fui daqueles que fazem sentido."

Floating



Debrucei-me sobre a popa
Enauseada sobre a maresia
Sacolejando lentamente
Olhos fechados para esquecer
Esquecendo só para lembrar

Deixei meus braços caírem
Meu peso logo desceu até os dedos
De rosto colado no chão
Sentia o gosto do vazio

Haviam me esquecido em algum lugar
Ou talvez lançaram-me à alguma distância
Impossível de se ver a terra
Água tão azul
Enauseada pelo sacolejamento

Me traz mais um drink?

Me ofereceram uma dose de amor...
Não, muito obrigada!

Drank poison

Outra vez saí para sentir o vento frio cortar meu rosto, a sensação de se sentir em pedaços me faz esquecer da minha vida.
Cruzando rua pós rua, passei pelo bar que costumávamos frequentar. Tão pequeno, íntimo, aconchegante e divertido.
Eu não voltei mais lá depois de nós termos sumido um do outro.
Decidi entrar...
Tudo tão impecável como outrora... Sossegado e convidativo.
Sempre me encantei com as luzes baixas e com os sons que vinham da mesa de bilhar.
Como estava sozinha, dessa vez sentei no balcão, pedi meu drink e senti cada gota arder por dentro.
Não acreditei, não consegui acreditar que atrás de mim havia sua voz.
Me virei lentamente agitando o gelo do meu copo.
Era você. Tão jeitoso e encantador como sempre.
Agradeci pelo whisky ter dominado a minha mente. Só assim eu consegui encarar.
Levantei-me sem dizer palavra alguma e andei para o bilhar.
Era tão costume jogar que eu senti que você me seguiria.
Jogamos. Nos enfrentamos.
No meio de cada tacada, confesso ter ouvido sua voz, mas não consegui distinguir palavra alguma...
Qualquer informação que meu cérebro me transmitia soava como ''bulshit, bulshit, bulshit".
Era a última bola. Eu concordei com algo que você disse. Concluí a tacada. Bebi o pouco whisky que me restava. Fitei-te ao fundo. E saí.
Atrás ficara apenas um eco, porquanto a porta fechava lentamente te deixando novamente só.
Eu celebrei.
A canção já havia sido plagiada, as notas já estavam desafinadas e as cordas arrebentadas.
Já não havia música alguma.


Ainda guardo o resto do whisky daquela noite.
Levo em minha carteira. Você vai lembrar...

Inóxio


Eu sabia que hoje ao acordar eu já teria esquecido.
É tanto para lembrar que não me perco mais pensando em você.
Confesso que tem dias que tudo que mais quero é deixar que meu
pensamento me consuma até não restar sequer um pó.
Mas eu ressurjo e volto para onde estou, tão certa de mim.
E há dias em que esforço-me para sentir algo que já não sei mais o que é, nem sei se ainda é possível sentir.
Ontem eu fui dormir pensando em coisas tão lindas, mas sem perceber peguei no sono e sabia, sim, que hoje elas teriam desaparecido.
Quando busco, em vão, lembrar das memórias que tive, só vejo um branco embaçado... Sem som... Fosco... Dá medo...
Tudo que queria era poder ter saído no meio da noite e desvendar cada mistério, descobrir cada sentimento e testar a todos, sem medo.
Mas hoje eu acordei tão sem sentimento que até a poesia não tem mais valor.
Como eu poderia afirmar que o amor é nossa maior arma divergindo como sendo nossa maior fraqueza sendo que nem isso eu posso sentir?
Nem esse frio, nem essa lareira, nem esse chocolate quente para completar.

Hoje eu acordei sabendo que esqueceria.
Mesmo assim dormi e sonhei.
Hoje acordei sabendo que tudo sumiria.
Mesmo assim desejei.

"Inofensivo, mas capaz de trazer a dor."