Preso entre a sombra queimando


Deparei-me com a perdição de meus olhos, como se um carro descesse a 200 km/h e batesse em uma parede imensa de concreto. Certamente meu mundo tornou-se pedaços. Em meio a tantas ferragens eu nem se quer tentei sair dali. Estava confortável. Não busquei socorro e nem se quer chorei. Senti por longos instantes que ali era o meu lugar. Meu coração pulsava forte, tão forte a ponto de sentir meu peito se pressionar contra os bancos tão apertados e estourados a minha volta. Mas sim, eu estava aquecida.

Deixei que o tempo passasse e me levasse para mais longe sem perceber que eu estava sendo esmagada aos poucos.

Devaneada, tentei me livrar dos pensamentos sufocantes que me assombraram durante meses crendo que tua presença significava muito mais para mim do que tudo aquilo que vivíamos. Então comecei a sofrer e me debater querendo desesperadamente me desprender das ferragens, mas todo tempo de comodidade fez com que eu me envolvesse cada vez mais deixando meu corpo entrelaçado com o meio.

A dor chegou. E por ser tão insuportável quis deixar de embriagar-me da gasolina que estava me abastecendo desde então. Não pedi ajuda, tentei sair sozinha, mas era impossível fazer isso de forma rápida.

O vício de estar ali estava corroendo meu ser, mas simplesmente por querer me desprender, eu fui escorregando de vagar por entre as paredes de ferro e nem me dei conta de que estava saindo de um sufoco incontrolável. Soube dizer não ao líquido que completava a minha alma e pouco a pouco me desliguei de ti aprendendo a dizer não e viver o presente designado somente a mim.

Deparei-me com a perdição dos meus olhos se desfazendo... Partindo... Sumindo.

Prisão/ Libertação/ Prisão ...


Foi estranho acordar e ver que tudo que eu sentia passou tão rápido.
Foi eterno enquanto durou, foi intenso.
Mas sumiu mais rápido do que eu esperava.
Não preciso culpar ninguém. Cada um sabe o que fez e o que tem feito.
Só que o efeito que certas atitudes causaram em mim, danificaram boa parte do meu sentimento bom por ti.
Tudo está exatamente igual, nenhuma vírgula fora do lugar. Pelo menos para ti.
Tudo permanece intocável. A única coisa que mudou foi meu sentimento.
Vamos continuar iguais, vamos rir, sair, brincar, chorar...
Só que sem o peso de um amor.
Eu ainda não o vi, mas sei que nada vai voltar a me dominar aqui dentro.

Eu não procurei o amor. Ele veio até mim.
Não escolhi amar. Simplesmente aconteceu.
Sabe por quantas vezes fizeste minha cabeça sem eu precisar pensar?
Inúmeras.
É engraçado como queremos que isso aconteça. De repente lá estamos nós, presos por correntes invisíveis a um certo alguém que não te prendeu por mal, nem por escolha.
Nos vemos atrelados por alguém que nos tira a possibilidade de enxergar a razão e nos faz flutuar até a imensidão desconhecida onde nós nem sabíamos quão alto podíamos ir.
Então a pressão que nos mantinha flutuantes acaba instantaneamente e percorremos o caminho contrário descendo repentinamente até o plano de onde jamais deveríamos ter saído.
Perguntamo-nos onde está o chão, por que não o encontramos...
Mas é que na verdade, nós permitimos dissolver nosso próprio piso, deixando livre diante de nós somente o abismo. Este construído apenas por incertezas de uma repentina boa sensação ao coração. Suicídio.

Demora um tempo, mas nós conseguimos nos recompor.
Traçamos um novo piso, estruturamos-o melhor.
Juramos manter as estruturas intocáveis. Reforçamo-as.
Eis que então, do nada, aparece alguém, e esquecemos de tudo.
E começamos tudo outra vez...