Essa é a última vez


Morreste por teu próprio silêncio. E agora, quem te salvará?
Tarde demais.
Ela já havia dito que faltava pouco para a porta da graça sentimental se fechar.
Ela se foi.
Por muito ela chamou e esperou. Por muito ela avisou.
Nada aconteceu.

Ela deixou de ser quando te perdeu.
Ela voltou a ser quando te reencontrou.
Ela quase desistiu quando não te viu.
Ela viu que precisava mudar.

Sentia-se só, incompleta.
Andou e desandou por vários caminhos.
Pensou, chorou, escondeu-se e decidiu.

Sofreu com sua própria decisão.
Foi difícil abandonar o próprio coração.

Viu-se repleta de mundo ao seu redor.
Viu que seu próprio mundo era nada.

Ela não falou de ti, porque tu não existes mais. Porque tu nem deverias existir.
Habitaste demais um lugar que não era para ti.
A morada é dela, então retire-se daqui.

Ela já não existe mais. Deixou este plano para elevar-se.

Exception


Eu sou diferente.
E não sei por que, só sei.
Nunca pensei igual, nunca agi igual.
Sempre discordo da maneira como as coisas tendem ser neste mundo.
Sou contra a maré.
E não entendo o por que, só sou.
Seria fácil se eu só agisse como todos, mas não.
Já tentei, não deu certo.

Perambulei por vários caminhos. Nenhum é o meu.
Graças a isso coleciono feridas que corromperam meu viver e cicatrizes com a missão de lembrar-me para sempre dos erros que me destruíram.

Eu estou certa agora. Eu estou no caminho certo.
Mas ainda falta, sempre falta.

Eu sou diferente, e eu não sei por que.
Não gosto de comparação. Porque eu ajo diferente.
Me perdi, mas já me encontrei.
E encontrando-me, infelizmente, vejo que a mim eu me basto.


Você foi tudo que eu vivi


Já ouvi falar em amor calmo. Já tive o desprazer de viver um. Agora evito.
Andei jurando estar contida pisando em terra firme, mas quando me dei conta estava lançada num amor violento. E não por ser tão violento, mas por vagarosamente e impiedosamente dilacerar o coração.
Ao mesmo tempo viciando e pedindo sempre mais. Mais presença, mais carinho, mais discussão, mais dor, mais amor.
Amor mau. Porém amor.
Inevitável querer parar.
E a cada segundo distante como se um pedaço meu fosse sendo arrancado com muito custo levando também consigo um pedaço da alma.
Foi incrível no princípio, trouxe dependência, trouxe alegria, trouxe intimidade, trouxe tudo. Inesperadamente veio a rasteira jogando para o ar tudo o que havia.
Tarde demais, alicerces já haviam, vícios se mantinham.
Infelizmente entre nós não havia algo de que nunca planejamos. Recomeço.
E ao nos lançarmos em órbita, jamais retornamos a estabilidade gravitacional. Tudo passou a flutuar, nada mais fixou-se no chão do nosso plano.
Então de avassalador, passou a ser devastador. Consumindo tudo o que de bom que havia restado.
Desavenças, descrenças, desistência, derrota mútua, força sumindo, vontade desaparecendo.
E como se já não bastasse a infinidade de falta de frequência, um amor que jamais sumia.
Amor que, assim como o universo, tende a expansão eterna. Assim como continua sendo, assim como continuará.
Agora distantes, agora deixando com que a falta de esperança predomine, já não mais vivo pensando constantemente, mas isso não quer dizer que não exista mais amor.

Se houve algo que eu aprendi durante todo esse tempo, é que se pode amar incondicionalmente a cada dia mais, e que não importa o que se passe, o amor continua sendo eterno. Mas simplesmente amar não significa que continuaremos seguindo eternamente a mesma estrada. Rumos são sempre diferentes, e nem sempre seguimos na mesma direção.
Aprendi também que pode viver distante mantendo apenas o coração batendo próximo ao seu.
Mas não se pode forçar corpo onde não há simultaneidade.

Amor intenso.
Duas vezes.
Duas decepções.

Para que voltaste?


Fui relutante ao encontro de meu passado
Evitei chegar aos pontos que eu sabia que sangrariam
Mas eu só podia garantir a mim, não pude controlar suas palavras.
Tentei por vezes te abandonar, consegui.
Mas se tu não conseguiste, então é o mesmo que nada.

É muito fácil viver com a ausência, difícil é se acostumar.
Não é impossível conviver com a falta, mas quando se depara com o desejo se vê o quanto sofre.
Omitir que falta não faz, que se pode viver, que se pode esquecer é mentira, é farça.
Teatros pessoais, teatros emocionais, simplesmente teatros.
Engana-se o mundo, mas não engana a si.
O mundo não importa, importa somente meu mundo, e se nele estás, e se dele não consegues sair, é a mim mesmo a quem peço socorro.

Foi um passado bom, foi um passado ótimo.
Há amor, mas só amor nunca basta.

ps: Espero que estejas bem, espero que não sofras como assim dizem as palavras.

Soneto da liberdade


Senti-me meio distante
novamente guardando planos feitos
lembrando dos seus muitos jeitos
Estocando-os por entre a estante.

Te senti sem pena partir
talvez aqui nunca esteve
ou então minha mente não conteve
a alegria que de ti me fez sorrir.

Busquei então em vão te achar
buscando até me sentir sangrar
vi meu coração aberto, já não moras mais em mim.

Fiquei sem chão, não mais sorri
imersa em dor então sorri
Melhor sem ti, estou livre enfim.

Reciprocidade. Aonde?


Imersa mais uma vez em devaneio me pego pensando sobre tudo que é recíproco.
Concluo irrevogavelmente que não existe reciprocidade.
Procurar por isso é ir intensamente atrás de um pote de ouro no fim do arco-íris, ou seja, simplesmente não há.
Um sempre amará mais que o outro, um sempre doará mais que o outro.
Não nego minha profunda tristeza por essa conclusão. Claro, em tudo há excessão.
Mas não é de minha excessão que falo hoje. Falo em forma geral por tudo que tenho visto e vivido.

Decidi então viver por mim, por base naquilo que sei e em minha própria linha de juízo.
Ora, já estive em profunda agonia, mas sempre soube o que fazer.
Uma dúvida que outra necessitando de opinião. Mas sempre fiz aquilo que aprendi ao longo de minha vida.
Decidi também que afastar-me-ia de todos aqueles que me sugavam e deixavam-me fraca por tanta insistência ao erro enquanto eu insistia no certo.
Afinal, quem sou eu? Ninguém. O que é minha opinião? Nada.
Minha opinião vale somente à mim.
Então percebi o extremo egoísmo que me cercava.

Se há quem fale comigo, é porque se precisa. Talvez àquela opinião, àquela ajuda.
E se dirigem-se a mim, por hora, devo ser pouco importante, que seja.

Não importa quanto laço eu leve, não importa quantas vezes eu chorar por falta de reciprocidade...
Eu jamais abandonarei, porque a índole sempre domina qualquer pensamento.

Concluo então que minha outra conclusão é meramente vã e sem propósito.
Afinal, se temos o dom do Espírito que é o amor, tudo passa e tudo suportaremos.
Vai doer sempre. Vai machucar e novamente vou querer fugir.
Mas não. O amor é sempre maior... O amor deve ser sempre maior.


Simplesmente amar


Era frio como agora.
E já me bastava ficar perto.
Era tanto êxtase que somente sua presença já alimentava minha alma.
Em meio a tantos tremeliques me vi cercada da realidade.
Sim, você estava ali.
E passou frio, e passou calor, já nem me dava conta mais...
Tudo que eu vivi naquele momento foi o seu sorriso.

Como se já não me bastasse a minha euforia por estar tão perto
Logo me vem sua respiração ofegante para me confundir.

Há quem diga que era evidente o que estava acontecendo ali.
Ainda assim preferi me conter.
Momentaneamente.
Hoje já tenho certeza.

Te preciso que mal posso conter tudo o que existe dentro de mim.

ps: Tão insignificante, porém tão preciso.
E não é para nada disso fazer sentido. É somente para amarmos.

Pensamentos de um ébrio


Estou vivendo tão ebriamente que já esqueci de mim.
Não. Não esqueci de mim.
Contraditóriamente sim.
Mas o que é razão depois de poesia pós poesia dominando dias sem se preocupar em sair do papel e assombrar a vida que fez o cinza tornar-se cor?
Não posso fugir se já estou embriagada do teu ser. Tonta e imersa na profundidade do meu eu com você.
E no fundo do corredor onde já passou tanta agonia e infelicidade eu estou...
Não somente estou como espero. E não somente espero como estou aberta.
E também não somente aberta, mas também querendo que estejas, assim como eu, desesperado para saciar a sede do invisível que transparece em nossa alma, o amor.
Sabendo que é loucura jogar-se em um oceano incerto, o perdão seria impedido de predominar caso não haja entrega.
E daí se é loucura?
Se definirmos amor como loucura, todas as mentes sãs implorariam para tornar-se insanas.

Conseguir respirar em meio ao amor quer dizer que o amor é certo.
É certo até você perder o chão devido a tanto tremer.
É esquecer que estamos no inverno por tanto sentir correntes de calor perpassar contínuas vezes em nosso interior.
E cair na tontura por timbre e voz que são a chave que nos libertam para o mundo que é tanto almejado e difícil de encontrar.
Sim, esse é meu lugar.
E tudo torna-se ebriamente ébrio.
Tornar o amor real é abster-se da abstinência que se chama você.
E poder gritar com toda força que SIM... Vale a pena arriscar.
Sumir de mim, unir-me a ti.