Matas-me



Não diga-me onde estarás amanhã.
Eu gosto de pensar que posso encontrar-te.
Em qualquer esquina
Talvez na feira
Ou na loja de discos.

Não diga-me que não vens.
Eu gosto de esperar-te
Mesmo sabendo que talvez
Nunca apontes no horizonte dos meus dias.

Não diga-me que é tarde
Que precisas ir para longe
Que a estrada é longa
Que a tarde é curta.

Não diga-me que desgostas dos livros
que foram devorados nos fins das tardes
Daquele outono quente.

Não diga-me para recuperar a razão que perdemos
Naquelas noites sem amor que tivemos.

Não diga-me:
"- Não me toques!"
Matas-me.

Essa dor fingida de poesia incompleta
E mal compreendida.
Que torra como um pavio curto
E explode cada sentido
De cada palavra solta
Que não passa de palavra
De um sonho bandido.

0 comentários: