Polaroid


De repente levantei do meu sofá em pleno inverno e saí pelas calçadas ladrilhadas e enquadradas perfeitamente. Mas fui sem rumo, pois não sabia aonde pretendia chegar. Eu só precisava sair.
Hora eu corri, hora caminhei, sentei e me rastejei, cada momento foi um só, predominado apenas pela minha angústia.
-Mais uma para minha coleção de mágoas-. Era tudo que eu pensava.
E eu não sei da onde e nem quando comecei a estocar tanta mágoa. Eu não possuía uma gaveta para arquivar coisas assim. Bordeando o lago pensei em quem tivera deixado essa gaveta ou me ensinado a etiquetar tanta coisa que não nos serve para nada. Em vão.
Meus pés iam congelando gradativamente, mas eu não queria voltar para casa. O frio na cabeça poderia fazer parar ou lentear meus pensamentos que borbulhavam com tanta intensidade.
Por dias sem notícias do amor do mês, parti em busca. Eu não precisava estar junto, só precisava saber. Era amor. Um amor que pulsava forte. Era amor.
Andei e, conforme ia sentindo o vento, pensava e sorria, pensava e entristecia.
Em uma mesa ao longe, avistei o meu homem, possuidor de um sorriso claro e estonteante acompanhado de um olhar tão sedutor que eu mal podia me conter.
Ele tinha a mesma feição de que eu me recordava, -handsome-.
Rodeado de amigos, eu sorri por ver a felicidade presente entre eles.
Me aproximei poupando os passos e, ninguém me viu. Essa era a intensão.
Cheguei mais perto e ouvi ele dizer palavras lindas e no fim dizendo que sentia falta dela.
Sorri apenas por um segundo, porque foi o tempo que eu demorei pra perceber que não se tratava de mim. E de quem mais poderia se tratar? Tudo que eu soube ouvindo tudo aquilo, é que sua inicial era "B".
Senti um toque, ele tinha me visto.
Eu virei e sorri disfarçadamente engolindo as lágrimas que queriam se desprender de mim.
O som da doce voz cravou uma dor em meu peito que eu não sabia descrever.
Ouvi então ele dizer que sentia saudade e que faria de tudo para estar perto quando pudesse.
Olhei ao redor e os olhares que me fitavam disfarçaram.
Mil imagens se passaram em minha cabeça e conclui que eu não iria mais lutar por nada que tivesse a ver conosco.
Éramos diferentes demais.
Eu não estava no meu lugar, eu fui somente para tentar. E errei.
Dosei-me do mais puro álcool e esqueci.

Abri meus olhos, levantei do sofá para fitar o espelho e vi que nem se quer tinha saído dali.
Não sei se foi melhor ou pior assim.

Memórias da República I


Chega uma hora em que é necessário marchar em uma nova direção.
Desconhecido, é como se estivéssemos vendados. Sem escolha, nos jogamos.

Inerte fui. Hora relutante. Relutância era único tipo movimento.
Obstinando as situações, as vivia. Sem vida presente. Só respirando.
Meu quarto, tão pequeno, se tornara infinito em minha mente, andando sem direção em forma de fuga.
Por que?
Quando mudei-me para a nova vida, julguei ser diferente. Havia planos, havia cor.
Se tentar lembrar de alguma vez em que a tristeza tomou conta, será em vão.
Sorrisos sempre cercavam nosso viver.

Quando você se depara com alguém, você só descobre quem ele é com o tempo.
E o anjo chegou, descolado, bonito e risonho...
Com ele foram vários...
Toda a inércia que antes contia todos meus movimentos fora embora e se tornara alegria.
MOMENTÂNEO.

Aquele anjo possuía o dom da fala.
Mas não qualquer fala. Falar mal.
Ferindo mais que uma espada afiada, ia correndo por todos os cantos e esfaqueando tudo e todos que estavam ao redor.
Aqueles que, de per si, não conseguiam se defender.

E eu, que sempre tive tanta facilidade em esquecer o que era ruim, tenho dificuldade para sanar essa mágoa.
Tantos nomes, números e feições guardadas na memória, cada qual guardado com tanto cuidado, sem nada para estragar, me deparo com a escuridão de uma dor causada por um anjo maldoso com a única intenção de torturar a alma.

Não desejo mal, só desejo que estejas sentindo o dobro da dor de suas próprias garras no interior de todas as almas que perturbaste.
Já que agora vives só.
Até que ambas, por tanto se debater com a ardência, possamos eliminar a dor que implantaste em nós.

Eufonia


Debruçou-se sobre mim a adrenalina
Nas montanhas, pelo vento a menina
Entrelaçada ao eco bom que me levava
Sonando em tons as lindas letras que cantava.

Calmaria e bem estar ia sentindo
Devagar por entre os poros suspirava
Andando só, ia tranquila e sorrindo
Subindo em paz, a doce voz me esperava.

Estou bem perto e ouço melhor a melodia
Estando distante de minha terra eu chorava
Aprendi a solar como o anjo noite e dia.

Lá no alto o vento bate em meus cabelos
Sem sentir falta do amor que me amava
Transformo meu canto e os enrolo em novelos.